sexta-feira, 19 de junho de 2015

Compromisso

Eu vou escrever todos os dias.

Todos os dias penso que me vou sentar e, enquanto a MC faz a sesta ou está entretida (por pouco tempo) a brincar (quase sempre, a inventar novas formas de me fazer crescer mais cabelos brancos), vou deixar que tudo o que está preso dentro de mim se liberte e as palavras simplesmente fluam e ganhem forma e sentido neste ecrã.

Eu vou escrever todos os dias.

Todos os dias protelo, adio, faço por esquecer. Ainda assim, faz-me falta este espaço, este canto, onde posso ser simplesmente eu. Não a Mulher, não a Mãe, não a Doméstica/Desempregada (ou, como alguns tanto gostam de apregoar, a Calona/a Dondoca que está em casa às custas do marido, pobre coitado que se esfalfa a trabalhar, sem fazer nenhum, vejam lá que indecência). Tão somente Eu.

Eu vou escrever todos os dias.

Eu quero, juro que sim, mas falta-me a disposição, a mais pura vontade e sobram-me o cansaço e a desilusão num mundo que cada vez mais nos oprime e nos quer máquinas em vez de seres humanos, estereotipados num qualquer modelo que se pense ser mais correcto do que aquele em que acreditamos - o da família em primeiro lugar e acima de todas as coisas, no meu caso.

Eu vou escrever todos os dias.

Vou aperfeiçoar a minha escrita, o meu vocabulário, a minha capacidade de dar voz ao que sinto e penso. Vou exorcizar fantasmas e procurar soluções para concretizar os meus sonhos, tudo o que (ainda) quero fazer no tempo (pouco ou muito não interessa, desde que me permita ver a nossa filha crescida, orientada e, acima de tudo, feliz e a viver segundo os bons valores que lhe procuramos transmitir desde que morava no meu ventre).

Eu vou escrever todos os dias.

Vou acreditar que é possível continuar a trabalhar no meu terceiro livro (ainda que o primeiro e o segundo nunca tenham visto a luz do dia), nos meus trabalhos de crochet e ponto de cruz (porque os meus olhos hão-de melhorar e até já tenho uma lupa própria para me auxiliar), ensinar a MC a viver e ser feliz, transmitir-lhe o que necessita de aprender ainda que, neste momento, não a possa (nem queira, a bem da verdade) colocar numa creche (quando fizer três anos, logo se vê...). Vou ser melhor mãe, mais paciente, mais abnegada em prol da nossa filha (há dias em que o cansaço é tanto que só me apetece fugir porta fora, mas fica mal dizer ou admitir que, sequer, se pensam estas coisas). Vou ter uma retrosaria, organizar workshops e colaborar em iniciativas que visem o bem-estar daqueles que nos rodeiam, vou estar e ser presente e dar o exemplo à MC que ao fazer o bem ao outro, fazemo-lo também a nós, porque temos sempre algo mais a aprender em cada acto e gesto que praticamos.

Eu vou escrever todos os dias.

Hoje foi o primeiro. Porque há sempre um começo*.


*Nem que seja meio ano depois - sim, seis meses e dois dias - do último post!

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